Exposição

















O bairro era Botafogo, tanto o da moradia quanto o do comércio. A história era a de João Romão, antes empregado de um vendeiro, depois dono da venda, explorador, vitima, sedutor, herdeiro da taverna e de tudo que estava dentro. Ali exercera o sonho do imigrante, a tara do brasileiro. Ganancioso e labutador, dormia sobre o balcão da própria venda, economizando para enriquecer.

A exposição que apresentamos parte de discussões fomentadas no curso de portfólio, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Ali, a ideia primeira foi trabalhar com o “naturalismo”, gênero literário inaugurado pelo romance de Aluísio de Azevedo.

Para a arte contemporânea, ativar o naturalismo é deixar o trabalho freqüentar um limiar ousado entre arte e utilidade, imagem e invisibilidade, obra de arte e meras coisas reais. Portanto, lidamos com a casa de João Romão, aquele que para enriquecer explorava os moradores de um cortiço.

Tudo era coletivizado e a exposição procurou manter esta proximidade das obras. Dali, dos becos desumanos, da higienização precária, a brasilidade se construía, no samba de roda, na profissionalização de ex-escravos, na malandragem carioca, na mulata exportação, na utopia imigratória. A cultura miscigenada do dia-a-dia muito além da fábula das três raças.

Curiosamente, este lugar de moradia funciona, hoje, como memória urbana e civilizatória para os subúrbios, para as favelas, para os condomínios. O escritor conseguira mostrar que a intensa proximidade de corpos, no lugar de morada, gerava as mais subversivas atitudes: o crime, a traição amorosa, a fofoca no tanque de roupas.

E assim os dias passam, nas fotografias de família, no escape dos ralos, nas fantasias de carnaval, no pó dos dias, na roupa estendida no varal, no gato de luz, nos despachos afro-brasileiros, nos tijolos, britas, portas e escadas da construção precária, nos bordados dos afetos que podem (re)costurar o romance, fazendo-o retornar a Botafogo. Hospedamos, aqui, todos esses personagens e ambientes numa outra casa vizinha.
Marcelo Campos



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